“O tempo não tem natureza própria, em absoluto. Quando nos parece longo, é longo, e quando nos parece curto, é curto, mas ninguém sabe em realidade a sua verdadeira extensão” (MANN, Thomas. A montanha mágica.)
Depois de um tempo de isolamento, reflexões e aprendizado, retorno à Fiocruz não mais como estagiário, mas, sim, como bolsista. Estes vínculos, no entanto, não se diferem apenas pelos termos gramaticais ou burocráticos. Encontro-me diferente, em um novo ciclo de vida e empenhado para realizar um novo trabalho. Agora, tendo finalizado a graduação em Ciências Sociais, curso mestrado em Antropologia e encaro novas responsabilidades e desafios.
A Pandemia do novo Coronavírus fez com que tudo se interrompesse abruptamente. Ninguém sabia o que ia acontecer e nem por quanto tempo duraria. Deixei meu estágio na Fiocruz em um dia fatídico que mais se assemelhou a um naufrágio. Larguei tudo para trás: livros, canetas, anotações, minha caneca da COC e uma rotina organizada. O estágio passou a ser remoto, bem como a faculdade e todas as outras atividades. A vida se transformou: sai da cidade para recolher-me nas mesmas montanhas em que Hans Castorp se isolou: distante, angustiado, reflexivo e saudoso dos colegas e da rotina. Em meio ao novo normal, me formei na graduação em dezembro de 2020 e finalizei, paralelamente, meu primeiro ciclo na Fiocruz. Depois disso, foram 8 longos meses de angústias e incertezas, um tempo relativamente estranho.
A oportunidade de retorno à Fiocruz ocorreu exatamente quando iniciei o curso de Mestrado, em meados de setembro de 2021. Mesmo sendo um cético do destino, ainda acredito que, por vezes, as coisas têm seu lugar e hora para acontecer. E cá estou, iniciando este meu segundo ciclo na instituição! Sinto uma ótima sensação e honra em fazer, novamente, parte da COC.
Desta vez o projeto será um pouco diferente: farei parte da equipe que busca implementar a Base Memória Administrativa, acervo este que buscará contar a história da instituição a partir da documentação produzida nela. Na primeira etapa, já concluída, fiz o upload dos arquivos já digitalizados e separados a partir de suas unidades produtoras. É um imenso privilégio fazer parte dessa empreitada e me deslocar para a história da instituição a partir de sua documentação. Mal vejo a hora de retornar (com os devidos cuidados e ainda respeitando as medidas de prevenção contra o Coronavírus) ao regime presencial, de ter meu tempo, novamente, preenchido com trocas humanas, longas e curtas; de entrar no Arquivo e na história tão especial da Fiocruz a partir de seu próprio ambiente, de poder recuperar minha caneca outrora deixada como símbolo de que o retorno, em algum tempo, ocorreria. Que este novo ciclo seja um tempo rápido pelo prazer naquilo que faço, e longo em sua extensão cronológica!